"O incêndio ocorrido no Museu Nacional proporcionou,
tanto aqui, como em várias partes do mundo, a somatória dos sentimentos de
vergonha e revolta, porque a possibilidade de uma tragédia vinha sendo
exaustivamente anunciada.
Este triste acontecimento nos permite afirmar não
existir uma única responsabilidade criminosa, mas reconhecer que ela pertence a
todas as cores político-partidárias que, sem se importar a que custo, tem
lutado para se manter no poder ao longo dos últimos 30 ou 40 anos da história
recente do nosso País. Consequentemente, este crime é o maior exemplo do
desmazelo existente na maior parte das cidades brasileiras onde a conservação
dos patrimônios históricos, que muito contribuem para impulsionar o turismo,
vem sendo relegada ao esquecimento sob a clássica e mais do que esfarrapada
desculpa da falta de recursos para mantê-los.
Esta insensatez, contudo, não deve ser creditada
apenas entre os que pouco ou nada fazem para restaurar os museus em situação de
risco, mas dividida com aquelas que ainda não entenderam que cultura é o legado
que nos foi deixado por meio das artes, das crenças, dos hábitos, da
arquitetura e dos costumes, entre tantos outros. Devemos nos precaver, por
conseguinte, contra os indivíduos que vivem demonstrando que a alienação
cultural, mais do que um sintoma, é uma doença grava, mas pode ter cura. Com
certeza encontraremos dificuldades em mudar esta mentalidade tacanha, mas nada
nos custa tentar colocar nas duas cabeças que cultura também é a terapia que
pode ser utilizada na eliminação de sentimentos como o mau-humor ou a
depressão, além de permitir despertar vocações adormecidas na literatura, no
teatro, na música, no canto, na dança, nas artes plásticas, no artesanato ou na
pintura, dentre tantas outras atividades tão carentes de talentos.
Não podemos deixar de considerar, portanto, que os
povos somente evoluem, não só quando promovem alterações significativas em seu
meio social, mas se houver um efetivo empenho em investir nas modificações que
se fazem urgentes e necessárias para impedir que continuemos nos equilibrando
na corda bamba do descaso ou do abandono. Isto significa senhor Presidente,
senhora e senhores vereadores, que não devemos ter apenas “vontade política”,
mas promover a efetiva união das forças necessárias para romper os grilhões da
negligência que tornaram Luzia – o fóssil humano mais antigo encontrado na
América – na mártir da cultura brasileira.
Finalizando, senhor Presidente, este triste
acontecimento, por outro lado, nos concede a grande oportunidade para fazer com
que deixemos de ser um povo que só pensa no “carpe diem”, ou seja, só o momento
nos interessa, pois nossa história, há décadas, deixou de ter valor neste Brasilzão
que sobrevive, sabe Deus como e até quando, assombrado pelo fantasma da
falência cultural.
É por esta e tantas outras razões que estamos nos
reunindo para tratar de um assunto que não diz respeito apenas ao excursionismo
cultural e religioso da nossa cidade, mas de uma região riquíssima em pontos turísticos
a serem convenientemente explorados."
Discurso de Olmair Perez Rillo, presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Penápolis no Encontro de Tatuadores.